A história do glúten
Derivado do grego Koiliakos, a palavra ‘celíaca’ leva o significado de “doença da barriga”. Por volta de 1887, um médico chamado Dr. Samuel Gee deu a primeira partida de estudos sobre a doença celíaca. Caíam em suas mãos pacientes com uma doença degenerativa descrita como “produtora de fezes fedorentas e esbranquiçadas”, além de outros sintomas como dores musculares, fraqueza, alterações de apetite e crescimento atrofiado. Apesar de diversas tentativas de dietas (todas com glúten) dadas aos seus pacientes, Dr. Gee não chegou perto de descobrir a origem da doença, porém foi o primeiro a designar o nome celíaco aos doentes.
O grande descobridor da Doença Celíaca foi o médico holandês Willem Dicke. Em 1932 Dr. Dicke criou seu interesse pelos tais sintomas que apareciam periodicamente em celíacos. Começou a estudar sua relação com a ingesta de farinha de trigo após um relato de diarreia consequente ao consumo de pão. Acabou por descobrir que o glúten era o causador da má absorção de nutrientes em celíacos, passando a revolucionar a vida dos doentes propondo uma dieta completamente isenta de glúten.
Mas afinal, o que é glúten?
O glúten é uma proteína composta que encontramos em cereais como o trigo, centeio, cevada e aveia. Atua como material adesivo/colante o que ajuda as receitas a ficarem mais macias e estruturadas (bolos, muffins, biscoitos, massa de pizza, etc). Com exceção destes alimentos, todos são livres de glúten, exceto é claro, aqueles que sofrem contaminação durante o processamento e aqueles que levam glúten na fórmula apenas para ganharem uma melhor consistência (molho de tomate, queijos, maquiagens, cremes para pele, etc)
Não é uma molécula simples! Se trata de uma proteína formada por outros dois grupos proteicos: glutenina e gliadina. A teoria aponta a porção da gliadina como a alergênica e prejudicial.
O que o glúten causa na Doença Celíaca?
Ao entrar em contato com as vilosidades intestinais, por algum motivo desconhecido (talvez genético ou ambiental), o sistema imune do celíaco é ativado quando o glúten é ingerido. O organismo entende que um corpo estranho está tentando invadir a circulação sanguínea e tenta bloquear esse invasor atacando-o.
E é daí que vem a explicação do porque o órgão mais prejudicado pela doença celíaca é o intestino delgado e também o porque fazemos biópsia do intestino na endoscopia para confirmar o laudo de doença celíaca (na verdade o médico está a procura de células do sistema imune em excesso no seu intestino).
Ao atacar o glúten e consequentemente o próprio corpo, uma inflamação é originada a qual pode ser espalhada para diversos órgãos e ser a responsável pelos milhares de sintomas descritos pelos adeptos da doença.
O processo inflamatório intestinal crônico causado pela doença, pode levar à atrofia do intestino delgado, prejudicando a absorção de diversos nutrientes importantes para o bom funcionamento do organismo.
Foi observado em vários estudos, a relação entre doenças inflamatórias intestinais, enxaqueca, bronquite, sinusite, asma, entre outras, e o consumo de glúten. Quando o glúten é retirado da alimentação, ou ao menos quando o seu consumo é reduzido, observa-se, na prática, que no geral há uma minimização significativa destes males.
No entanto, a necessidade de retirar completamente o glúten da dieta só existe para quem tem intolerância ou alergia.
Tomar cuidado com
a utilização de produtos sem glúten industrializados que substituem os produtos com glúten. Nem sempre os produtos sem glúten são mais saudáveis. Para tentar alcançar o sabor e consistência de produtos que utilizam farinha de trigo, são adicionados outros ingredientes como o açúcar, conservantes, estabilizantes, emulsificantes, etc. Portanto se for fazer uma dieta sem glúten (sendo celíaco ou não) é sempre bom se atentar as embalagens (ingredientes). Preferir também produtos naturais in natura sem glúten (arroz, feijão, frutas, verduras, legumes) ao invés de produtos processados.
Qual o melhor tratamento para doença celíaca?
O único tratamento existente é a retirada completa do glúten da alimentação de quem é celíaco. Além disso, conforme é feita a retirada e o corpo vai se reestabelecendo, talvez seja necessária a reposição de vitaminas, minerais e probióticos.
Os sintomas mais comuns da doença celíaca são
- Diarreia ou constipação
- Dores abdominais
- Dores de estômago
- Flatulência
- Perda de peso
- Náusea e vômito
- Distensão abdominal
- Anemia
Outros sintomas não tão comuns da Doença Celíaca
- Neuropatia periférica
- Enxaqueca crônica
- Dermatite herpetiforme
- Infertilidade
- Fadiga crônica
- Afta
- Candidíase
- Estomatite
Referências:
World Gastroenterology Organisation Global Guidelines, Doença celíaca. 2012.
Dieta sem glúten: há riscos? A new approach to the isolation and characterization of wheat flour allergens.
A mentira do glúten, Alan Levinovtz
A dieta da mente, Dr.David Perlmutter